Exposição Sergio Telles
Pinturas
Abertura
21 de janeiro, 20h
Exposição
14 de Março.
Segunda a sexta-feira, das 9 às 18h
Sábado, das 9 às 14h
Local
Rua Curitiba
Nº 1862
Bairro Lourdes
Belo Horizonte / MG
CEP: 30.170-127
- @errolflynngaleriadearte
- /errolflynngaleriadearte
Esta exposição possui um significado muito especial para nós da Errol Flynn Galeria de Arte. Tivemos a honra de conhecer Sergio Telles há dezessete anos. Ainda residia na Tunísia, onde era Embaixador do Brasil. De lá para cá, nossa relação de amizade e profissional só se fortaleceu. Fizemos algumas exposições individuais e coletivas, editamos livros e catálogos, testemunhamos algumas de suas comendas, prêmios e homenagens. Chega agora a nossa vez de lhe oferecer uma carinhosa homenagem, que na verdade é um tributo também à própria pintura brasileira. E os maiores beneficiários desta mostra são todos vocês, que têm aqui a oportunidade de ver um inédito acervo de trabalhos, alguns guardados há vinte, trinta, cinquenta anos, frutos de uma carreira reconhecidamente meritória e vitoriosa.
Proponho-me corrigir uma premissa que muitos imaginam sobre o artista: que a origem de sua obra tenha dívidas para com a diplomacia. Sérgio já construía, havia mais de quinze anos, uma relevante carreira artística quando ingressou por concurso (também com indiscutível mérito) no Ministério das Relações Exteriores. E não o contrário. Toda a espetacular bagagem artística construída nos diversos países onde serviu, deveu-se exclusivamente ao seu inato talento, à sua extrema dedicação ao trabalho e à sua incrível capacidade de pintar, desenhar e aquarelar com mestria. Não por acaso, galerias e críticos de arte importantes, do Japão à França, do Brasil à Malásia, de Portugal à Tunísia, se interessaram, expuseram e escreveram sobre o seu trabalho, culminando com a presença de sua obra em coleções de arte e museus em todo mundo. Só o que é verdadeiramente belo, só o que é extraordinariamente dotado de qualidade, só o que é consistente e carregado de excelência consegue tanto sucesso, por tanto tempo, em meio a culturas e hábitos tão díspares.
Assim, externamos aqui nossa grande alegria, contentamento, prazer, em trazer este acervo para nossas paredes. Deixamos registrado profundo agradecimento a este grande artista brasileiro por tudo que fizemos juntos, pelo compromisso e respeito que sempre pautou nossa relação, por todo o caminho que construímos e percorremos. Belo Horizonte está sendo premiada, mais uma vez, com a magia da arte de Sergio Telles, nosso inesquecível amigo e artista, hoje com quase 85 anos de idade.
Compareço neste catálogo a duplo título: como crítico de arte e como belo-horizontino. Nesta segunda qualidade, venho-me somar ao pessoal da Errol Flynn numa homenagem que é não só da galeria, mas também de todos os mineiros, ao querido pintor Sergio Telles. Já contei em outro texto, há bom tempo, que ele possui em seu passado um elo particular com nosso estado. Vestido com seu garboso uniforme da Escola Militar do Rio de Janeiro, vinha regularmente a Belo Horizonte, na década de 1950, de trem noturno, para namorar – quem?… Mônica, filha de Antônio Joaquim e Lúcia Machado de Almeida. Eu não daria a isso maior importância se não se tratasse, justamente, desse casal, personificação do que existiu (e existe) de mais bacana nas Minas Gerais: o cuidado para com as coisas da inteligência e do espírito, com a beleza na arte e na vida, e com a elegância humana para com o outro. Com absoluta certeza, Sergio foi contaminado pelos Almeida naquela época.
Conheço há bom tempo a pintura de Telles, e como crítico chegou-me a hora de observar um tópico bastante importante – na verdade, fundamental. Não é novidade na obra (pelo contrário), mas é novidade na força com que se evidencia. Reúnem-se aqui 44 anos de produção – uma retrospectiva. Pela primeira vez fica tão clara para mim a absoluta unidade do todo. O quanto Telles é inquestionavelmente ele e só ele, como conseguiu construir um corpo de obra e um estilo tão próprios e reconhecíveis. Mesmo feitas à distância de décadas, qualquer uma dessas telas, vista em separado, num contexto neutro, informa imediatamente quem é o autor. Somos capazes de identificá-lo sem nenhuma informação além das que vêm do olhar. Posso-lhes assegurar que constitui uma qualidade rara, de que dezenas de artistas até mais ilustres não têm o direito de se gabar.
A unidade resulta, naturalmente, de alguns procedimentos de linguagem constantes e típicos. Não sei se o cidadão Sergio Telles é impaciente e nervoso, mas sua pintura sem dúvida o é. O colorido intenso, os balanços mais vezes escuros que claros e a pincelada rápida e incisiva, tudo são rastros de uma vontade dinâmica, que gosta de pintar do natural e captá-lo num esforço único e intenso. Visivelmente, nem em quadros feitos na paz do ateliê, naturezas-mortas, vasos de flores, Telles cozinha a pintura. Sua maior modernidade reside no brilho do gesto e nesse sentido de tempo e urgência, de quem consegue fazer a obra acontecer.
Nasceu em 1936, no bairro boêmio do Estácio, no Rio de Janeiro, e começou a pintar aos 9 anos, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, orientado por Levino Fânzeres. Em 1954, participou de seu primeiro Salão Nacional de Belas Artes e viajou pela Amazônia. Premiado em Salões da Sociedade Brasileira de Belas Artes, em 1955 realizou sua primeira exposição individual no Rio. Em 1957, viajou para a Europa, indo visitar os principais museus da Itália, França, Holanda, Bélgica, Inglaterra, Espanha e Portugal. Na condição de estagiário, prestou serviços de restauração na Pinacoteca do Vaticano. De volta ao Rio, frequentou os ateliês de Rodolfo Chambelland, Oswaldo Teixeira e Marie Nivouliés de Pierrefort.
Em 1964, através de concurso, ingressou na carreira diplomática, no Ministério das Relações Exteriores, e exerceu cargos em Portugal, Angola, Japão, Iraque, Líbano, França, Rússia, Malásia, Suíça e Tunísia, encerrando a carreira no posto de Embaixador. Regressou em definitivo ao Brasil em 2006 e reside em São Paulo, com a esposa Teresa e os filhos.
A obra de Sérgio Telles – desenhos, aquarelas, gravuras e pinturas a óleo – desenvolveu-se em todos esses países, além de, naturalmente, no Brasil, e em outros locais visitados, como Bali. Inclui cenas urbanas, praias, mercados, festas populares, interiores de ateliês, assim como os temas clássicos: paisagens, marinhas, naturezas-mortas e flores. Seus quadros figuram em importantes museus, como o Carnavalet, o Beaubourg e o Museu de Arte Moderna, em Paris, os museus de Grenoble, Marselha, Lyon e Rouen, o Petit Palais de Genebra, o Hermitage de São Petersburgo, o Pouchkine de Moscou, o MASP de São Paulo, o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Museu de Lisboa, o Museu Bridgestone de Tóquio, o Albertina de Viena, o Palácio de Kheireddine em Túnis e a Galeria Nacional de Kuala Lumpur, capital da Malásia.
Suas principais exposições foram organizadas por alguns desses museus e pelas galerias Wildenstein de Londres, Tóquio e Buenos Aires, Bernheim Jeune e Claude Marumo, em Paris, Perron em Genebra, Jean Boghici no Rio de Janeiro, Renato Magalhães Gouvêa em São Paulo, São Mamede em Lisboa, Nuno Lima de Carvalho no Estoril, Fujikawa em Tóquio e Stuker em Zurique. Em 2009, realizou exposições individuais na Errol Flynn Galeria de Arte de Belo Horizonte e na de Brasília, acompanhadas pelo lançamento do livro Sergio Telles – A Pintura da Coerência, editado pela Errol Flynn. Em 2010, realizou retrospectiva no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, com o lançamento do livro Sergio Telles – Caminhos da Cor, editado por G. Ermakof Casa Editorial, expondo também, individualmente, no Salão de Arte da Hebraica em São Paulo. Em 2012 expôs novamente na Errol Flynn de Belo Horizonte, com lançamento do livro Sergio Telles – Caminhos da Cor. Em 2014, foi realizada mais uma retrospectiva pelo Museu lnimá de Paula, em Belo Horizonte.
Sergio Telles recebeu numerosos prêmios nacionais e internacionais e sua obra está exaustivamente registrada em dezenas de livros publicados em diferentes países.
Sobre ela escreveram críticos de arte e intelectuais como Raymond Cogniat, Pierre Courthion, Pierre Seghers, Jeanine Warnod, François Dault, Antônio Bento, Jorge Amado, Olívio Tavares de Araújo, Ferreira Gullar, Fábio Magalhães, Carlos Drummond de Andrade, Mário Barata, Clarival do Prado Valladares, José Roberto Teixeira Leite, Jacob Klintowitz, Gilberto Gil, Rachel de Queiroz, Fernando Namora, Rafael Squirru, Cesar Magrini, Chisaburo Yamada e Yasuo Kamon. Eis abaixo um excerto da ótima apreciação de Georges Pillement, publicada no catálogo da exposição de 1981 no Renato Magalhães Gouvêa Escritório de Arte, São Paulo.
“Sergio Telles pode ser considerado um continuador da tradição fovista: sua sensibilidade para os efeitos cromáticos e sua corajosa justaposição de contrastes revelam um gosto refinado, para o qual contribuem de modo preponderante os tons vibráteis. Sua contribuição pessoal ao Fovismo reside na nota exótica oriunda tanto de sua própria natureza quanto da luminosidade brasileira. Essa nota é onipresente em sua obra, ainda quando busca dar uma versão pessoal dos céus cinzentos azulados de Paris. As pinturas de Telles podem ser tanto fluidas e delicadas quanto muitas vezes brutais e realistas. E esse dualismo pode ser observado de modo particular quando se compara seus trabalhos de pequenas dimensões aos maiores. Os pequenos podem ser encarados como esboço, e é neles que o artista atinge maior grau de delicadeza, ternura e espontaneidade. A análise da obra de Telles, baseada em seus trabalhos mais recentes, revela que ele continua a utilizar a intensidade luminosa típica do Fovismo, ao mesmo tempo, porém, que a vem conciliando com o brilho, o vigor e até a brutalidade do Expressionismo”.