Exposição Coletiva
Damasceno
&
Dionísio - Tio Tonho

Abertura
Terça-feira, 8 de Agosto de 2022
Exposição
Até 25 de Agosto
Segundas a sextas-feiras das 10 às 18 h
Sábados das 10 às 13 h
Local
Rua Curitiba, 1862, Lourdes, 30170-127
Belo Horizonte/MG
Estacionamento Privativo
+55 (31) 3318-3830
9.9889-1515 | 9.9889-5445
contato@errol.com.br
- @errolflynngaleria
- /errolflynngaleriadearte
Breve divagação sobre a arte moderna brasileira.
É preciso celebrar sempre não só a memória, mas a obra de artistas como GTO, Valentim Rosa, Artur Pereira, Noemisa, Ulisses Pereira, Dona Isabel, José Assunção. Mas entendendo com clareza de que estes autores são apenas alguns de geração de artistas admiráveis ainda longe de ser bem conhecida, estudada e, criteriosamente, integrada a arte brasileira. Aqui estou falando de artistas de Minas Gerais. Mas tal situação se repete em outras regiões do Brasil que também tem muitos criadores abrigados sobre a bela (mas também simplista) expressão arte popular.
A expressividade e arrojo das obras dos artistas são tão explícitos que sugere mais: eles seriam os fundadores de um modernismo popular, matricial para toda cultura brasileira. Que não pode e nem deve ser capturado por consideração “caridosa” e paternalista absolutamente imprópria à compreensão do que estes autores realizaram e significam. A exposição da galeria Errol Flynn, que reúne trabalhos de Dionísio Tio Tonho (Antônio Dionísio da Cruz) e Damasceno (José Damasceno Telles Camilo), convida ao conhecimento de dois artistas que, mais uma vez, reafirmam a potência radical da arte popular do Brasil.
Desafio posto, hoje, é maior conhecimento, inclusive quantitativo, do realizado pelos artistas. Até porque que se vai descobrindo que realizaram muito mais do que se conhece até agora e que existem criadores ainda praticamente desconhecidos. Pesquisa essencial que permitiria compreender opções estilísticas, formação de linguagem autoral, desenvolvimento estéticos. E colaboraria para conhecer de forma menos superficial contextos de atuação, aprendizado artístico, registrar diálogos etc. Criando condições para fruição e análise que faça jus a complexidade que as obras irradiam.
O passar do tempo vem tornando evidente mais uma questão digna de nota: a chamada arte popular é, de fato, um movimento artístico, com estética própria, extenso, que abrange todas as áreas artísticas? Que floresce em diversas partes do Brasil, a primeira vista na passagem dos anos 1960 para 1970, mas cujas raízes que chegam até os anos 1940? Posto a margem, mas também integrada a tudo que aquele momento colocou? Estética cujo impacto foi decisivo para algumas das mais importantes criações brasileiras (de João Guimarães Rosa a Hélio Oiticica passando por Glauber Rocha)?
Trata-se de arte criada por artistas e artesãos operários, camponeses e outsiders do sistema de arte. Cujo emblema é uma extensa crônica da vida rural e urbana brasileira (ou da passagem de uma a outra) tendo como referência a dimensão coletiva da vida social. Há diferentes argumentações, que variam de artista para artista, mas recorrente é o irreverente ignorar (conscientemente) das normas acadêmicas, a mescla de real e imaginário, o cromatismo vibrante e o ostensivo sabor telúrico. Aspectos vale lembrar, celebrados, via diversos caminhos, por muitas estéticas modernas de todas as partes do mundo.
Ponto de convergência é, também, consideração por dimensões festivas da existência sem apagar atenção para com o trabalho e os ofícios, apresentada de forma explícita ou implícita. É como se para além de vida certamente sofrida houvesse desejo de materializar um sonho (de todos os artistas brasileiros): fazer arte e com ela ganhar o seu sustento. Significativo é observar que os próprios criadores da estética popular chegam ao mundo das artes. Situação diferente de tempos em eram, basicamente, sábia referência, inspiração, para artistas eruditos.
Não se trata mais, como no início do século XX, de “atualização” (como quer discurso de época) da arte nacional a partir das estéticas europeias. Mas produção que existindo em contexto de vanguardas e neo-vanguardas funda (?) um projeto moderno, inclusivo, inovador, a partir de questões da cultura e da sociedade brasileira. Lélia Coelho Frota, autora do Dicionário da arte do povo brasileiro – século XX, vê, nas realizações, circularidade entre o erudito e o popular. Caminho bem conhecido na música popular, mas recalcado nas artes visuais. A estudiosa incorpora inclusive manifestações arquitetônicas como a Casa de Cacos, de Carlos Luis de Almeida, em Contagem (MG).
Questões que alertam para problemática colocação da arte popular em guetos (naif, primitivo, espontâneo etc.). Em especial porque é olhar que deixa a sensação de que as obras seriam produto somente da “intuição”, insinuando que a arte popular seria produto da ignorância e não da sabedoria dos artistas.
Provocação: será que um dia vamos ver exposição com maioria, significativa, de artistas populares e uma boa dúzia de artistas “eruditos” (Tarsila, Guignard, Volpi especialmente mas não só) que mostram com toda clareza que os criadores têm muito a apreender com os autores populares e a observação do Brasil.
Ou seja: ainda esta por se produzir inserção menos pontual da chamada arte popular no projeto moderno (e contemporâneo?) brasileiro. Até porque as criações dos autores populares, em muitos casos, tem mais radicalidade, em todos os aspectos, do que as importantes, mas modestas, realizações do modernismo “oficial”. Especialmente, e com as devidas exceções, no que se refere à pintura. Operação fundamental até para que o público brasileiro entenda melhor a arte moderna, suas inovações, múltiplos caminhos e desdobramentos. E para liberar energias que incitem a produção de arte mais criativa.
Às vezes, encantado com o que pude ver dos autores, desconfiado com cronologias (regionais?) mais afeitas a marcos de pioneirismo do que a obras realmente realizada, penso que só hoje temos um acervo realmente moderno em suas diferentes estéticas. Um “alto” modernismo que se iniciaria por volta dos primeiros anos da segunda metade do século XX e vai até os anos 1990, quando as novas tecnologias trazem transformações para a arte. E, importante, ainda devemos aos artistas populares o reconhecimento de que são eles que ostentam, sem timidez, as muitas liberdades, a contundência e as conquistas trazidas pela modernidade.
A arquiteta Lina Bo Bardi, como recorda Adélia Borges no livro Design+artesanato – O caminho brasileiro escreve se referindo a arte do povo: “Essa parte da humanidade, levada pelas necessidades a resolver por si mesma o próprio problema existencial e não possuindo essa pseudocultura, tem a força necessária ao desenvolvimento de uma nova e verdadeira cultura. Essa força latente existe em alto grau no Brasil, onde uma forma primordial de civilização primitiva (não no sentido de ingênua, e sim composta de elementos essenciais, reais e concretos) coincide com as formas mais avançadas do pensamento moderno”.
Em tempo: não acompanho visões que afirmam rupturas absolutas entre o moderno e o contemporâneo (ou o chamado pós-moderno) ainda que reconheça que há diferenças, significativas, entre as primeiras e as últimas décadas do século XX. Prefiro considerar que um período história não tem um “fim” abrupto, que ele vai se desfiando (como sugere Claude Levi-Strauss falando dos mitos) até se tornar outra coisa.
Depois não acredito em uma mesma datação, para os diversos países e ate regiões, no que se refere a questões culturais. Prefiro ainda evidência explicita no modernismo do início do século XX (mas não só naquele momento) que registra efervescência artística de múltiplos caminhos e não redução à via de mão única que conduz, necessariamente, a abstração. Mais sugestivo, em minha opinião, é compreender o tecido cultural e artístico como jogos de forças desiguais e combinadas que agem, incessantemente, na sociedade.
Walter Sebastião
Jornalista, 2022
Obras em Exposição
Damasceno
Damasceno nasceu em Belo Horizonte, em 1947, faleceu em 2019.
Sua descoberta para a arte se deu na adolescência, após conhecer e trabalhar com a artista Marlene Trindade. Embora Marlene o estimulasse, somente em 1974 Damasceno criou coragem de expor seus trabalhos, incentivado por Palhano Junior, Diretor Social e Cultural do Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Iniciava-se então, uma das mais prósperas e férteis carreiras de um artista plástico, com sucessivas exposições individuais e coletivas além de inúmeras premiações e menções honrosas.
Trabalhos em Acervo
1976 – IV Festa Nacional do Folclore – Galeria Otto Cirne Belo Horizonte/MG
1977 – Salão dos Santeiros Imaginários – Paço das Artes/SP
1977 – IX Salão Nacional de Arte – MAM Pampulha Belo Horizonte/MG
1978 – Salão “O Circo” – Paço das Artes/SP
1980 – Salão Junino – Palácio das Artes Belo Horizonte/MG
1981 – Salão do Cons. Estadual de Cultura Palácio das Artes Belo Horizonte/MG
1981 – Salão da Arte Negra – Ipatinga/MG
1981 – Salão da Ferrovia RFFSA/RJ
1981 – Salão de Artes Plásticas de Assis/SP
1982 – Exposição “Uma Obra Prima” – Barra Shopping Rio de Janeiro/RJ
1983 – Atelier Aberto Praça da Liberdade Belo Horizonte/MG
1983 – Exposição Pintura Primitiva – Meridien Hotel Rio de Janeiro/RJ
1984 – Coletiva Galeria Guignard Belo Horizonte/MG
1985 – Coletiva – Lagoa da Prata/MG
1986 – Individual Galeria Mandala/SP
1990 – Bolsa de Arte – Lisboa – Portugal
1990 – Coletiva Hotel Meridien/RJ
1992 – Individual na Galeria Performance Brasília/DF
1992 – Coletiva na Galeria Performance — Brasília/DF
1992 – Coletiva Centro de Arte Primitiva – Brasília/DF
1993 – Coletiva Pintura Primitiva Brasileira Itapetinga/SP
1994 – 1ª Bienal de Arte Naif Mostra Nacional Piracicaba/SP
1995 – Coletiva Espaço Cultural Alfaville Vila Velha/ES
1995 – Coletiva de Arte Naif — Galeria Pró-Música-Juiz de Fora/MG
2006 – Vaca Metropolitana (CowParade) Belo Horizonte/MG
2009 – Coletiva Centro Cultural de Contagem –Projeto Tudo a Ver – Contagem/MG
2010 – Exposição individual — Tiradentes/MG
2011 – Coletiva Galeria Jaques Levi Belo Horizonte/MG
2012 – Coletiva Cidade de Tiradentes/MG
2013 – Salão de Artes de Itabirito/MG
2013 – Mestres da Capital Centro de Centro de Artes Popular Belo Horizonte/MG
2014 – Assembléia Legislativa Belo Horizonte/MG
2015 – Coletiva Galeria Jaques Belo Horizonte/MG
2016 – Prêmio Mestres Artes Popular Contagem/MG
Prêmio Nacional de Arte popular — Cartão de Prata Bauru-SP
Prêmio Salão da Coordenadoria Estadual de Cultura Ipatinga/MG
Prêmio Salão do Carnaval – Menção honrosa Montes Claros/MG
Prêmio Talentos da Maturidade — Categoria Artes Plásticas — Banco Real
Algumas de suas obras estão em embaixadas e consulados de vários países como Canadá, Estados Unidos, França, Inglaterra, Japão, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Venezuela, dentre outros.
Dionísio (Tio Tonho)
Antônio Dionísio da Cruz — Dionísio (Tio Tonho) nasceu em Pitangui/MG em 27 de julho de 1937.
Inicio: 1973 — Feira de Artes de Belo Horizonte
Premiações
1981 – 1º Prêmio no Salão da Ferrovia do Rio de Janeiro/RJ
1981 – 1º Prêmio do Salão de Arte Negra de Ipatinga Ipatinga/MG
1981 — Prêmio de Aquisição no Salão de Arte de Assis — Assis/SP
1983 – Prêmio de Aquisição do Primeiro Salão de Arte de Itajubá/MG
1984 – Prêmio no Salão do Boi de Governador Valadares/MG
1985 – Prêmio de Aquisição no Salão da Ferrovia do Rio de Janeiro/RJ
1987 – Prêmio no Salão de arte de Piracicaba/SP
1988 – Medalha de Prata no Salão de Artes de Piracicaba/SP
1989 – Prêmio Salão de Artes Piracicaba/SP
1990 – Prêmio Salão de Artes de Piracicaba/SP
1996 – Prêmio na Segunda Bienal Naif de Piracicaba /SP
1997 – Incluido no livro “Cem Anos de Artes Plásticas de Belo Horizonte” como um dos maiores primitivistas do século em Belo Horizonte.
Obs. O astiva no ano de 2000 “esquemia”, Desde esta data passou a exercer todas as atividades, inclusive pintar, utilizando a mão esquerda.
Exposições Individuais e Coletivas
1976 – Exposição individual – Galeria Valença Veículos — Brasília/DF
1976 Exposição Coletiva – Semana do Folclore – Ass. Médica de Minas Gerais
1977 — Exposição Individual — Aliança Francesa Brasília/DF
1980 — Exposição Individual – Aliança Francesa Belo Horizonte/MG
1981 – Exposição Coletiva – Galeria de Trevo Shopping Center — Belo Horizonte/MG
1981 – Exposição Individua – Galeria do Minas Tênis Clube — Belo Horizonte/MG
1982 — Exposição Coletiva — Aliança Francesa Belo Horizonte/MG
1982 — Exposição Coletiva – Galeria do Serviço Social do Comércio de Belo Horizonte/MG
1982 — Exposição Coletiva — Galeria do Centro de Cultura Inglesa de Belo Horizonte/MG
1983 — Exposição Coletiva — Galeria da Ass. Médica de Belo Horizonte/MG
1983 — Exposição Coletiva — Galeria de G. M. Center
1983 — Exposição Coletiva em homenagem a colônia Italiana — Othon Palace Hotel — Belo Horizonte /MG
1984 — Exposição Coletiva — Galeria da Telemig Belo Horizonte/MG
1985 — Exposição Coletiva — Galeria do Barra Shopping – Rio de Janeiro/RJ
1987 – Criação da Galeria Mod’Art Belo Horizonte/MG
1992 — Individual – Kasa Galeria – Taguatinga Brasília/DF
1993 — Coletiva — Galeria Pró-Música Juiz de Fora/MG
1994 — Individual – Galeria Banco do Brasil – Belo Horizonte/MG
1994 – Coletiva – Centro Cultural Sete Lagoas/MG
1995 – Coletiva – Circulo Militar de Belo Horizonte/MG
1996 – Coletiva – Um Século, de Artes Plásticas de Belo Horizonte/MG — Centrode Cultura da UFMG
1997 – Individual – Galeria de Arte da TELEMIG
1998 – Galeria Minas Casa – Belo Horizonte/MG
1998 – Galeria Casa dos Contos Belo Horizonte/MG
1998 – Coletiva — Galeria “Vinhas D’Alhos
2002 – Exposição Individual na Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.